domingo, 7 de setembro de 2008

Miss Imperfeita (Adaptação do texto de Martha Medeiros)

Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.

Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado sempre que necessário, leio jornal e revistas diariamente, ajudo a decidir o cardápio da família, almoço com ela, estudo para me manter atualizada, telefono para minha mãe para avisar de meus horários, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, compro roupas e sapatos, respondo a toneladas de e-mails e scraps, compro mais roupas e sapatos, faço revisões no dentista, mamografia, vejo novela, compro flores para casa, garanto as fotografias dos bons momentos com amigos e família, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova três vezes por semana - e as unhas!

E, entre uma coisa e outra, leio livros. Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic. Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a (tentar) não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.

Culpa por nada, aliás. Existe a Coca zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.

Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.

É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias!

Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO9000, não será bem avaliada.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência...

Desacelerar tem um custo.

Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante.

domingo, 23 de março de 2008

Feliz Páscoa para nós mulheres!!

Na verdade, entre tantos, o que atrai é mesmo a aparência. Quanto mais bonito, atraente e... disputado, esse é meu foco. Tomo licença e falo por todas nós mulheres. Está certo que, às vezes, são todos muito iguais e não sei muito bem porque escolhi justo aquele. Justo aquele!

O interior é óbvio que também é valorizado. Mas nisso a gente só pensa depois. À primeira vista, queremos o mais bonito da ocasião.

E com leve sacrifício, conquistamos. Logo, difícil não pensar na tal hora. Apesar da expectativa, ainda antes, queremos descobrir o que nos aguarda. Acreditamos em tudo o que nos dizem. As expectativas sobre o momento aumentam. Só imaginamos os instantes de prazer.

É verdade que, muitas vezes, por fora já descobrimos que são portadores de gramas que, definitivamente, não são necessárias e que, para nossa reputação, vão causar prejuízos... Mas, obcecadas, relevamos. Afinal, a gente bem sabe que na hora ‘h’ o fato não se torna nenhum sacrifício.

Chegamos, enfim, ao local dos fatos. Quanta ansiedade. Não é preciso nenhuma cerimônia, nem nada para acompanhar. Começamos a desembrulhar. Aí, como em tantas outras coisas, percebemos que se trata apenas de uma casca sem graça. Um simples chocolate moldado na forma mais atrativa para a data comercial. Porém, admitimos: na medida de nosso esperado prazer!!!

E como eternas insatisfeitas já pensamos nos próximos a conquistar. Sempre na expectativa de encontrar, debaixo daquela embalagem cheia de promessas, uma casca surpreendentemente trufada, um interior repleto dos mais finos bombons e, quem sabe, até um brinde surpresa...

sexta-feira, 14 de março de 2008

Respeitável público... há magia em todo lugar!!

As palavras do jovem garoto iluminado pelas luzes coloridas da fachada me trouxeram um breve sorriso. Sorriso que talvez não tenha o feito entender. Talvez por surpreender. Ou, quem sabe, intimidar.

Com um olhar perguntador, ficou encabulado ao perceber que, certamente, as perguntas teriam continuidade. Abaixou a cabeça... e com os pés, alisou a grama. Então - com uma certa formalidade que nada combinava com aquela calça larga vermelha seguras por um estreito suspensório azul - pediu licença.

Mais um sorriso... e, nessa hora, as perguntas já haviam mesmo fugido. Um momento como poucas vezes presenciei e certamente, na vida, ainda pouco irei. Simples. Suave. Portador de uma poesia sem palavras. Sem pretensão.

No mesmo gramado, as crianças corriam e gritavam contentes. O cheiro da pipoca doce e do algodão, também doce, ajudavam a compôr o primeiro dos espetáculos.

Por alguns minutos permaneci calada. Por alguns minutos permaneci ainda mais atenta. Por alguns minutos, agora, sou capaz de recordar todos aqueles minutos.

Debaixo da lona, o espetáculo começava. O homem da capa e cartola preta foi o primeiro a aparecer. Dentro de um baú, cortou uma de suas assistentes. Logo depois, tochas de fogo eram lançadas para o ar por um outro rapaz, ainda mais novo. Vieram também as moças que deixam o chão com a ajuda de um tecido. Quando acabara de entrar o grupo que, no ar, se exibe de um lado para o outro, vozes de criança me levaram a deixar o grande público.

Elas estavam descalças e ambas sem camisa. Um menino e uma menina. Os joelhos sujos de terra e os descabelados fios de cabelo fascinavam tão quanto a apresentação principal. Nas extremidades da pequena mesa improvisada, jogavam ping-pong no quintal de casa.

Ao redor, traillers enfileirados. Mais de vinte. Na janela de um, uma moça com uma toalha verde nos cabelos segurava uma embalagem de desodorante corporal. Na porta do outro, um senhor com um pão e uma faca nas mãos.

Encostada, e um pouco escondida, continuei a observar aquele modo de vida ainda pouco, por mim, conhecido. Lembrei das palavras do envergonhado jovem logo na minha chegada. Com toda naturalidade, me disse não saber desde quando morava naquele lugar, nem ao certo quando iria deixar a cidade. Se o destino é Guarujá, Praia Grande ou Botucatu... isso é detalhe! Disse que a família dele era extensa e que todos moravam lado a lado e, mesmo quando chegava a hora de se mudar, continuavam a morar lado a lado.

Agora sim, a certeza do imaginado no início da noite. Como diz a música de um grupo musical de palhaços alternativos, ali é ‘tudo uma coisa só’. A casa é onde quiser que seja. A família são todos que, juntos, convivem. A vida é vivida sem contagem de tempo. Risadas também fazem parte e são rotineiras.

Falando nisso, volto à atração principal. Somente alguns passos e lá estava o agora palhaço, antes poeta de um cenário natural. Em ação, ia além. Arrancava contínuas gargalhadas de um incontável público. Um legítimo protagonista para os dois lados do espetáculo... e continuava a encantar. Bastava observar. Mesmo acostumado com tantas risadas, conservava a capacidade de se encabular por qualquer sorriso desconhecido...

quinta-feira, 6 de março de 2008

Em frações de segundos...

- Ande. Depressa. Você está atrasada.
- Calma, dá tempo. Meus pais já chegaram?
- Ainda não os vi. Me diz, como você consegue se atrasar justo no seu dia?
- Difícil é não atrasar. Nossa, eles vão ficar tão felizes de me ver nessa roupa...
- Vamos, te ajudo a fechar.
- É assim mesmo que veste?
- Claro, como seria?
- Não sei, é a primeira vez que visto isso. Cadê a faixa? Qual a cor?
- Tome. É azul.

{Azul... O mesmo daquele dia. Mas daquela vez em forma de uma blusa de um ombro só. Lembro mais: foi acompanhada daquela mini-saia jeans e da antiga sandália de madeira preta. Risos. E, junto, meu pai: vestida assim, todo mundo vai saber que é ‘bixo’. Mas vestida assim como? Até hoje não sei o que ele quis dizer com isso...

Nossa. Já se foram quatro anos. Como uma data pode ficar tão fresca na memória de uma pessoa? Será que é porque estou com o mesmo frio na barriga e aquela mesma expectativa de fase nova para começar? Será que desta vez também vai dar tudo certo?

E como eu mudei em quatro anos. Ninguém acredita. E quem diria? A amiga do colégio que dividia as primeiras carteiras comigo resolveu mudar de curso... e virou ainda mais minha amiga. Aquela menina atleta da natação que era tão quietinha e inteligente veio a se tornar uma pessoa tão querida e inesquecível. E a outra garota que na primeira semana pedia para entrar no meu grupo... quem diria que seria ela a minha companheira do trabalho dos nossos sonhos junto com aquele menino grandão lá do fundo da sala. E as tantas outras pessoas especiais que vou encontrar lá em cima. Se bem que, desta vez, sei quem vou encontrar ao subir estas escadas... e ninguém mais vai achar que estou vestida de bixo. Nossa, será mesmo que meu pai ainda não...}

- Não acredito que vai ficar parada. Cristiane, pare de chorar. Já está toda borrada. Deixa eu arrumar.
- ...
- Pronto. Está linda. Corra. Estou com sua máquina.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Yeah Yeah

Pois é. Diversas vezes que me deparei com a tal pergunta. Em algumas respondi de primeira: o inverno. Mas lembro também de não ter hesitado em dizer: o verão, é óbvio!

Hoje, me limito a falar que não sei. Na verdade, acho que o verão não é uma estação. É um estado de espírito. Sim, um estado de espírito!! E hoje, ah, hoje, eu ‘tô é pro verão!’.

Estou para acordar cedo, me apressar para chegar à praia... e, chegando lá, quem sabe, voltar a dormir. É. À sombra de um guarda-sol ou uma folha de palmeira... tanto faz. Talvez quando acordar, corra até mar, sujo ou limpo, eu quero é aproveitar.

Quero dar risada, beber o que tenho vontade, sair com quem for sem ter hora pra chegar. Pegar o carro e acelerar... só para sentir o vento bom embaraçar os fios de cabelo. Cantar alto uma música qualquer, não ter medo de sorrir para quem quiser...

Também quero ficar em casa lendo uma boa biografia antiga ou relatos de um velho jornalista. Quero sentar no computador numa noite quente de céu estrelado e ficar escrevendo meia dúzia de idéias...

Mas, assim, o que vou contar para os meus netos? Ah. Penso nisso depois, quero mesmo é viver o agora... seja do jeito que for...

Para ser sincera, o que me atrai mesmo nos dias em que estou em verão é que o verão, por si só, é sinestésico. Capaz de deixar a gente fazer, pensar e sentir o que quiser. São nos dias de verão que consigo ver muito bem qual a cor do sabor, sentir o cheiro do som e ouvir o barulho que sai dos aromas.

No meu último dia em verão, se me lembro bem, apesar de bastante azedo, foi quase tudo azul. O tão esperado verde teve um gosto bem amargo. Mas, ao mesmo tempo, aquele jazz também foi verde e esse teve um sabor muito bom... por fim, lembro que o perfume usado foi o blues que eu ainda iria enxergar.

E isso não troco por nada. Mesmo que daqui a pouco acabe o verão, aquele verão da estação, não tem problema... No outono, na primavera ou até mesmo no inverno, sei que ainda vou viver muitos dias de verão. E é só o que eu quero.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Saio correndo mesmo, mas só se não cansar...

Mais um prazo chega ao fim. Hora de pensar em outra desculpa. Não tem problema, sou boa nisso. Deveria existir um concurso dos melhores pretextos inventados a si mesmo, cujo o público alvo é sempre atingido com sucesso. Eu já teria ganhado muitos carros e talvez já tivesse até casa própria...

Nesse caso, já me convenci que quando não trabalhava, não tinha dinheiro para tal. Quando comecei a trabalhar, o que não me sobrava era tempo. Então, prometi que só faria quando terminassem meus estudos. Ufa. Ganhei quatro anos. Mas estes se passaram tão depressa.

Desde então, as desculpas são reinventadas a cada semana. Logo, as amigas voltam a dizer para mim: quando a gente quer, não tem falta de tempo, nem de dinheiro. Ok. Eu não quero! Pronto, falei.

Nada me faz querer. Não há lógica. O que vai me fazer gostar de, diariamente, entrar em um aquário e servir de vitrine e distração para pessoas entediadas no trânsito congestionado de turistas afoitos por um raio de sol?

O que vai me fazer vestir roupas justíssimas e suar, suar, suar... e suar? Estar na esteira e quando estiver ‘pegando o jeito’ ter que ir para a bicicleta e depois para o abdominal... sem falar em todos aqueles outros aparelhos e exercicíos que não sei nem dizer o nome.

Não adianta. Odeio academia!! Já fui conhecer todas do bairro, mas admito que a recepcionista nunca mais viu meu rosto assustado e apreensivo da decisão que relutava em tomar. Lembro da vez que uma força estranha me fez retornar até um desses templos da beleza a longo prazo. Fui o primeiro dia... no seguinte, não subia escadas. Fui o segundo dia... pela tarde, nem os pés encostava no chão. Diz, dá para voltar o terceiro?

Mesmo assim, não desisto. 2008 é o ano das mudanças. Vai que essa está inclusa. Sei que um dia tomo coragem. Mas ainda tenho 10 meses para tal. Os estudos por hora acabaram, porém nem sei até quando vou estar trabalhando... se for para fazer tem que ser direito, não é mesmo?

E, também, quer saber? Não daria mesmo para eu me matricular amanhã. Já seria dia doze. Pagaria por quase duas semanas que nem usufrui. Sem chance. Isso! Acho que achei a desculpa ideal. Agora, só mês que vem!!!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

É carnaval... Feliz 2008!!

Ouço o som da bateria. A rainha, seminua, já se exibe para a câmera. É, daqui a pouco o ano vai começar.

Começam também os pensamentos infundados. Ou melhor, retornam. Já se foram pouco mais de um mês e aquele misto de alegria e incertezas vivido na praia junto às taças de vinho, fogos e lágrimas insiste em permanecer. Meu Deus!

Nesse momento introspectivo me sinto mesmo natural desse país. Ainda aguardo o ano começar. Continuo a somente fazer planos e deixo-me levar pelos planos dos outros... para mim.

Mais uma olhada na tevê e já duvido das frases anteriores. Sou mesmo brasileira? Não é possível. É domingo de carnaval!! Talvez o primeiro de minha vida em condições de curtir a data. Bom, melhor pensar nisso só a partir de amanhã.

A transformista que há pouco criava polêmica no congresso nacional também está na avenida. Aliás, muito vestida. Momentos de curiosidade... ela deve ter feito de propósito!!

Os sons da cuíca e do agogô são responsáveis pela saudade. Bons tempos de viagens rotineiras sem a responsabilidade de voltar para casa. Consigo sentir até os pingos da chuva agradável da noite de sambódromo há não exatos três anos. Comigo, na arquibancada, pessoas especiais.

Outro sorriso. Lá estão as baianas. Se um dia o espírito de carnaval voltar a exercer controle sobre mim, é assim que entro na avenida. É muita alegria e muito anonimato debaixo daquela enorme saia. Não precisaria nem ter a preocupação – e a disposição – de freqüentar a academia.

Já o mestre-sala e porta-bandeira não geram nenhuma animação ao meu coração duvidosamente carnavalesco. Entretanto, mais uma vez, são responsáveis pelo retorno à memória de uma outra fase boa que terminou.

Uma professora esquisita, colegas de classe ainda desconhecidos... volto aos primeiros dias de aula do curso que acabei de deixar com muito choro. A aula era de cultura brasileira e a história do carnaval me fazia ter a certeza de que tinha escolhido a melhor faculdade – eu ainda não sabia da carga horária e do piso salarial.

Não é que tudo isso que passa pelos 700 metros de avenida faz sentido? A história dos escravos, a bandeira das fazendas, o sofrimento enganado pela alegria... Por que os telejornais não explicam isso para a população desinformada? Ok. Boa sugestão de pauta para o carnaval 2009.

Agora, os apresentadores enrolam e chamam entrevista com a ‘atriz e modelo’ das 41 cirurgias plásticas. Com a exclusividade que a entrevistada insiste em enfatizar, a própria mostra seus olhos agora puxados.

Pois é. Outra escola se prepara para entrar na avenida e já é segunda-feira. Hora de começar a curtir meu retorno ao carnaval... e o ano que vai começar. Feliz 2008!!